quarta-feira, 10 de abril de 2019

Percorrendo Viena

Estive em dúvida entre ir a Brno na República Tcheca ou ficar em Viena. Eu estava muito cansado, teria de pagar um trem bem cedo para evitar conexões, gerenciar uma outra moeda, passar o dia correndo para fazer uma visita em poucas horas. Pensei e resolvi passar um dia mais calmo em Viena. Teria portanto três dias aqui ainda.

Na noite anterior, ao tentar fechar o gavetão onde podemos guardar as malas, notei que algo estava errado. Embora com cadeado, o trinco girava. Examinei a situação e me dei conta de que a espessura do cadeado não era suficiente para impedir o fecho de girar  Desci para tentar conseguir um cadeado mais espesso. A recepcionista me disse que só havia para vender por cinco euros. 

Até agora, todo albergue no qual fiquei, os mecanismos de fechamento eram automáticos com chave magnética, aí chego num albergue que não foi minha primeira opção e me deparo com este situação. A cidade esteve cheia por conta de uma maratona, um congresso da União Europeia e um congresso científico, como consequência todos os albergues estavam lotados e sobrou este aqui.

Reclamei um pouco na recepção e voltei para o quarto para pensar no que fazer. Numa dessas coincidências de albergue, a menina que lá na recepção escutou o problema chegou no quarto. Ela me perguntou o que havia acontecido e após escutar a história se solidarizou. Perguntei de onde era e para minha surpresa ela disse África do Sul. Digo para minha surpresa porque é muito incomum encontrar alguém de lá.

No dia seguinte, sem muita programação em mente, perguntei o que ela planejava fazer. Ela disse que queria visitar alguns lugares que não tinha tido a oportunidade e perguntou se eu não queria ir junto. Respondi que sim, não havia nada planejado mesmo e como ela tinha feito um passeio guiado de noite, comentou que queria ir a alguns lugares para comer os doces famosos e para ver lugares turísticos mais vazios.

Sem tomar café-da-manhã, saímos para a catedral de São Estêvão. Subimos a torre mais alta, de onde era possível ver toda a cidade dentre os quais muitos dos edifícios conhecidos. Consegui ter uma noção da dispersão da cidade por conta da ausência de edifícios muito altos, com alguma exceções. 

A vista da torre

Telhado em detalhe

Lá em cima ventava muito e fazia frio, mas ainda era cedo e a previsão era de dia limpo e agradável. Quando saímos, fiquei atento para ver se algum lugar oferecia café-da-manhã. Ainda bem que não comi um cachorro quente na rua ou algo rápido em algum dos outros lugares que vi, porque encontramos a confeitaria Demel, que é conhecida.

Interior da confeitaria Demel

O salão anexo com doces expostos para venda

 Café e apfelstrudel

O interior era ricamente decorado, fez-me inclusive lembrar da confeitaria Colombo. A cozinha era aberta, havia alguns pequenos salões, um salão maior decorado com produtos para venda, como ovos de páscoa, cestas de chocolates e o salão de entrada com doces expostos para consumo no local.

Já tive de decidir na entrada o que comeria, pedi um apfelstrudel com creme e um café. Já era hora de comer alguma coisa. Com a fome saciada continuamos o passeio. Fomos para a região de Hofburg, passamos em frente ao parlamento e chegamos ao quarteirão dos museus, tomando o tempo necessário para sentar nos bancos das praças ou nas escadas dos monumentos.

Caminhamos para a região do Museu dá Secessão e depois fomos à Ópera. Eu não sabia, mas é possível comprar ingressos para assistir à ópera por até quatro euros. Tínhamos de chegar cedo na fila, esperar o horário em que começariam as vendas e assim poderíamos assistir a um espetáculo de nível mundial por um preço módico. Visto o local onde precisaria comprar o ingresso fomos almoçar. 

Jardim na região do parlamento

Museu natural

Karlskirche, ou igreja de São Carlos

O local escolhido foi o Schnitzelwirt, era dica de uma amiga da sul-africana. Que bela dica, um prato de schnitzel vinha com dois enormes bifes. Cada um pediu um acompanhamento e foi suficiente. Eu pedi um knödel novamente, achei muito gostoso. Para beber um radler, que é cerveja com suco de limão, tendendo para o doce.

Schnitzel, conhecido no Brasil como bife à milanesa

Knödel

Caminhamos mais até a prefeitura, que fica relativamente perto da região dos museus. Eu me lembrei que havia um parque legal pela região, encontrei no mapa e fomos para lá. O parque se chamava Sigmund Freud e ficava ao lado da Universidade de Viena, havia vários estudantes sentados no chão e foi o que fizemos. 

Ficamos um tempo de papo no parque, eu queria saber um pouco mais como é viver na África do Sul. Parece que a população autóctone forma 92% do total e há um enorme contingente de pessoas vivendo no que seria considerado pobreza ou extrema pobreza. Há muito desafio ainda para ser vencido por lá.

Já era hora de ir para a fila da ópera. Chegamos de metrô e já havia bastante gente na nossa frente. Ao chegar no guichê os ingressos de quatro euros haviam terminado e compramos o de três euros. Notei alguns brasileiros na fila.

A vista de cima da sala de concerto

Um dos salões

O esquema da ópera é assim, fila para esperar a abertura de venda de ingressos, fila para a compra de ingressos, busca do lugar onde vamos assistir o espetáculo, marcação de lugares com cachecol, lenço e outros, passeio pelo interior da ópera (por curiosidade e por conta própria), voltar para o lugar e assistir a duas horas de ópera dividida em duas partes. 

Marcados os lugares, fomos passear pelo interior. O lugar era suntuoso. Muitos detalhes como os bustos de diversos compositores, quadros, espelhos enormes, e muita madeira e mármore O salão de entrada era muito detalhado. Quando chegamos aos nossos lugares nos demos conta de que seria uma pedreira ficar duas horas de pé.

Atrás da gente dois caras começaram a discutir sobre lugares. Um cara com sotaque de idioma eslavos oriental (agora já consigo pegar melhor as diferenças de fonemas) tinha chegado o cachecol de outro para o lado. É parte da etiqueta do local respeitar os lugares marcados. Eu fiquei incomodado com a situação e tomei partido.

Os dois caras que tinham tido os lugares roubados eram argentinos, eu percebi pelo sotaque em inglês, confirmei com uma pergunta e logo emendei em espanhol: Vocês podem pedir ajuda para o cara lá dentro, vamos ver se ele vai interefir no assunto, senão a gente pode resolver de outra maneira. 

Um deles foi buscar um funcionário, voltou de lá com o reforço e o assunto foi resolvido. Um dos caras que estava tentando  ficar no lugar reservado saiu visualmente contrariado e deixou uma mulher lá no canto, do lado dos argentinos.

Depois desse pequeno problema o espetáculo estava por começar, nos concentramos e já pudemos sentir a vibração da orquestra e dos cantores ao vivo. A ópera a que assistimos foi Turandot, de Puccini. A história é a tentativa de um príncipe destronado de casar com uma princesa traumatizada e cruel (essa é a sinopse da sinopse), mas para que isso fosse possível, o príncipe teria de responder corretamente a três charadas, sob pena de morte em caso de errar alguma. 

Findo o espetáculo fomos comer no Naschmarket, eu estava faminto. Além de ter tomado um litro de água, comc meu prato e o que sobrou do outro. 

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