segunda-feira, 8 de abril de 2019

Hallstatt

Estive bem cansado nos últimos dias, acordei perto de 7:00, mas gostaria de ter dormido mais. O dia prometia, eu faria a viagem a Hallstatt, um dos lugares que estava ansioso para conhecer. Na recepção fui informado que eu deveria pegar um ônibus até uma estação de trem, em seguida um trem e depois cruzar o lago num barco.

Para aproveitar bem o dia, eu queria sair no primeiro ônibus, por isso assim que acordei, me arrumei, comi algo e fui para a estação. Havia muita gente na parada de ônibus e, por sorte, quando o este chegou parou praticamente na minha frente. Entrei e me acomodei. 

O ônibus foi parando muito ao longo do percurso, passamos por alguns lagos e uma estação de esqui. Notei que algumas das pessoas que embarcavam traziam consigo equipamento de esqui ou de montanhismo, inclusive algumas senhoras. Também vi famílias andando com seus filhos durante a viagem.

Esse distrito dos lagos é muito bonito, se situando na região dos Alpes, que é uma cadeia montanhosa na Europa. O mais famoso são os alpes suíços, mas as montanhas se estendem por diversos países. 

Em algumas das paradas o ônibus ficava estacionado, mesmo assim, depois de uma hora e meia finalmente chegamos à estação de trem. A estação tinha duas linhas e dela pude ver umas montanhas com neve no topo. Novamente fui um dos primeiros a comprar o ticket para o trem. 

Mais pelagem de tirar o fôlego

Estação de trem de Bad Ischl


Rio Traun

Notei na estação que havia duas pessoas falando entre si em espanhol, puxei uma conversa. Eram argentinos de Santa Fé. Eu já estive lá visitando uma empresa que produzia trigo. É impressionante que as conversas sempre chegam em economia ou política. Dessa vez eles estavam falando dos preços da Europa e então perguntaram das condições do Brasil, pronto, já chegamos à política.

Paisagem idílica

Casas esparsadas e bastante espaço

Passei por três lados no caminho

Eles preferiram ir de ônibus no segundo trecho. Foi assim que eu confirmei a sugestão do Google Maps. Bom, eu teria de me contentar com a experiência de atravessar o lago num barco, o que tinha seu charme.

O trem chegou em meia hora à minúscula estação de Hallstatt, essa com apenas uma linha e uma placa indicando a direção do trem. O tamanho das estações foi diminuindo, assim como o tamanho dos trens.

A mínima estação de Hallstatt

Descemos todos em bando para o ponto de chegada do barco. Os barcos são casados com os horários de partida e chegada dos trens, economizando tempo, diferentemente da conexão anterior. Quando entrei no barco do para trás, mas achei melhor idéia ir para frente, o que me proporcionaria uma vista mais legal na chegada. Eu não estava enganado!

A chegada de barco

É impressionante como essa cidade é uma pintura. Incrustada numa montanha bem íngreme, perto de uma mina de sal, há registro de pessoas vivendo na região desde tempos remotos. Sal parece ser vital para a raça humana há bastante tempo e acho que uma cidade como essa apenas confirma isso, porque do contrário, quem pensaria em morar em lugar tão isolado. 

Rodei a cidade inteira. Embora houvesse construções de alvenaria, havia muito mais de madeira. As ruas muitas vezes eram estreitas, não permitindo a passagem de carros. Como notei cancelas nas entradas da cidade, imagino que só moradores e táxis possam entrar. 

Uma das primeiras coisas que fiz foi ir para a entrada norte, é de lá que se tinha uma das melhores vistas da cidade e foi de lá que tirei algumas belas fotos.

Hallstatt, vista norte

Eu imagino que muita gente na cidade viva de turismo, o que faz sentido tendo em vista a quantidade deles que perambulam por lá. Caminhando pela cidade notei um restaurante um pouco isolado, fiquei com ele na cabeça e subi um pouco da rota cênica, que era anunciada numa placa. 

Panorâmica

Vi a cidade de cima, passei bem perto da cachoeira que corria até bem próximo ao lugar de chegada onde o barco atracou. Aliás, assim que notei essa passagem de água pelo barulho que fazia, fui lá conferir. 

O rio formado pela cachoeira

Rio seguindo seu percurso

O rio que era formado pela cachoeira, descia com força, corria entre algumas casas, e ao bater na formação rochosa que era seu leito fazia com que gotículas de água criassem uma espécie de nuvem úmida que só se percebia pela sensação na pele. Eu imediatamente me lembrei daqueles brinquedos de parque de diversões da Disney. 

A água corria em alta velocidade, as casas criavam uma barreira do sol e a água respingava. Tudo isso baixava muito a sensação térmica nesse ponto, como o sol dos Alpes é fortíssimo, esse descanso do calor foi muito bem aproveitado.

Tendo explorado a cidade por completo, fui almoçar naquele restaurante escondido. Não havia lugares no lado de dentro, mas com um dia tão bonito, olhar para as casinhas, o céu, e o entorno era quase uma obrigação. 

Praça com chafariz

Hallstatt, vista sul

Casas de madeira

Assim que cheguei o garçom veio me atender, era brincalhão, pedi uma cerveja e o cardápio. Escolhi um prato que ele me recomendou, havia sido preparado pelo chefe dele, segundo afirmou.

Vista de cima, pela caminhada indicada

Numa dessas coincidências, havia um casal na mesa do lado, brasileiros de Blumenau. Eles estavam visitando diversas cidades menores pela região, a grande vantagem, segundo eles, é evitar a horda de turistas. 

Isso é algo que eu notei desde a primeira vez que fui para o leste europeu. Em geral, se você quiser experiências mais próximas às do dia-a-dia das pessoas, tem de evitar lugares muito disputados. A mesma linha de raciocínio deve ser aplicada a albergues. Se quiser ter mais contato com as pessoas, ter uma experiência mais humana, evitem albergues grandes, de cadeia, votado como famoso dentre outros títulos que possam ostentar.

A volta foi a mesma peregrinação, mas no caminho inverso. Barco, trem, espera longa e ônibus. No barco de volta havia quatro espanholas e dois cubanos, conversamos sobre o socialismo e ideias danosas de esquerda. Os cubanos, que conhecem muito bem o sofrimento, lamentaram pela Venezuela e pelo papel do governo cubano. Eles fizeram um comentário que me fez pensar, segundo eles o governo já havia deixado a Venezuela de lado e começavam a se aproximar do México. Não pude deixar de notar a semelhança deste comportamento com a de um vírus que exaure recursos até ir ao próximo hospedeiro. Triste a história dos países latino americanos, cheios de riqueza, com um povo trabalhador, mas assolado por políticos ineptos e aproveitadores.

De volta a Salzburg eu ainda tinha um compromisso, comer a torta de chocolate do hotel Sache, criada em 1832 para um jantar especial da corte. Sentei-me na varanda do hotel e apreciei com vista para o rio Salzach.

Sachetorte e café

Cheguei relativamente cedo no albergue, e fiquei descansando um pouco enquanto fazia hora para comer. Jantei na segunda sugestão do guia, era boa comida e ótima cerveja. Numa dessas coincidências, o americano do outro restaurante estava lá com o amigo que ele teve de ir buscar em Munique. Viagem sempre traz essas surpresas.

Ensopado e cerveja

Um comentário:

Jayme disse...

Ola Levi. Somos o casal de Blumenau. Adoramos a referencia e o blog. Vamos segui-lo. Abraço e ótimas viagens.