segunda-feira, 1 de julho de 2013

Dia 14: O último dia

Viagens costumam nos ensinar e deixar saudades. Pensando em todo o que fiz aqui, o que vi, as pessoas que conheci, já tenho vontade de vir pra próxima.
Vi que uma sociedade completamente multicultural é possível. A integração sempre vai ser um tema, já tinha visto isso em Israel. É sempre uma questão pras gerações filhas.

A quantidade de cultura que Londres oferece, de graça, é incrível. Isso não é barreira para ninguém aqui. E o transporte, dentro e fora da cidade são incríveis. Consegui me deslocar por todos os lugares sem grandes problemas.

Os sítios arqueológicos também são impressionantes e haver uma fundação para cuidar de todos eles também é uma boa ideia.

A herança cultural aparece de todas as formas, e foi isso que eu vi em Liverpool. A história da minha banda predileta, que como aprendi lá, foi o ponto culminante de uma revolução que a cidade promoveu, com inúmeras bandas de apresentando dia e noite em bares. Uma revolução vinda da música.

A Escócia também é um país especial. Uma cultura tão diversa da inglesa que qualquer confusão entre os dois países é injusta.

Uma culinária bem diferente, saborosíssima, com ingredientes frescos e característicos. Suas ilhas e seu povo acolhedor e claro, a lenda em torno do Lago Ness.

Fiquei com bastante vontade de conhecer a Irlanda. Minha próxima viagem deve começar por aí.
Termino a viagem, mas trago muito comigo, de novo.

Uma história que acho que cabe aqui mostra o quão variada é a Inglaterra. Na ida ao aeroporto resolvi pegar um daqueles jornais que sempre estavam no metrô para ler. Abri na seção de ciências e fiquei estupefato de ver explicado o experimento do Gato de Schrödinger.

Esse experimento foi pensado por este cientista e um dos formuladores da mecânica quântica para mostrar o que ele queria dizer em sua teoria. O experimento basicamente coloca um gato numa caixa e dependendo da presença ou não de um elétron para disparar um dispositivo que libera um veneno, ao se abrir a caixa encontraremos o gato ou vivo ou morto.

De todos os modos, a Inglaterra é conhecida pelos seus tablóides de fofoca e ao mesmo tempo leio isso no metrô. Será que apenas a existência de uma opção vai levar as pessoas a consumir um jornal de maior qualidade?

domingo, 30 de junho de 2013

Dia 13: Liverpool

Ontem fez um dia lindo em Londres, fiquei de bermuda e camisa o dia inteiro e ainda precisei usar os óculos escuros. Acho que consegui pegar uma cor, em Londres, isso é histórico.

Há um problema neste albergue em que estou, o aquecimento interior é muito forte. Dormir é uma tarefa dura com essa questão. Eu tenho minhas dúvidas se o calor não vem do sol que bate na janela a manhã inteira, isto é, a partir das 4:30 da manhã.

O metrô também é quente, imagino que no inverno seja o oposto, não controlar a temperatura é algo que deve sempre ser feito. E isto deve ser um incômodo, mudar de temperatura diversas vezes faz mal. Lembro que o metrô da Argentina também não tem condicionamento de temperatura e está normalmente quente, a menos que você esteja na estação, aí corre um vento forte.



Detalhe da estação de trem de Liverpool. Preciso conferir se essa é a estação que aparece em A Hard Day's Night.
Mas voltando ao tema, hoje é dia de visitar a terra dos Beatles. O trem para Liverpool partiu no horário previsto. Ele era bem confortável, não senti solavancos, nada. Cheguei bem em Liverpool e peguei um táxi para tentar pegar o tour de 11:30. Cheguei a tempo de comprar o último ticket. Adoro que nessas viagens muitas coisas dão certo.



Eu fiz o Magical Mistery Tour!
A primeira coisa que notei ao chegar em Liverpool e que ficou mais evidente no tour foi o sotaque. Esse sotaque eu conheço de longa data, deve ter sido o sotaque da língua inglesa com o qual eu mais me familiarizo. Foram horas de entrevistas que escutei com o sotaque scouse (gentílico da pessoa de Liverpool).

O tour passou por muitos lugares, a casa de nascimento dos quatro integrantes da banda, as casas onde compuseram músicas, a rua Penny Lane, o terreno do exército da salvaçao Strawberry Fields e terminamos o passeio no Cavern Club. A impressão que eu tive é que Liverpool é Beatles. Sem eles tenho minhas dúvidas se haveria turismo na cidade e até se haveria economia, tendo em vista o declínio e a mudança de indústrias para outros lugares no mundo.



Na esquina de Penny Lane.
Os portões de Strawberry Fields, um terreno do Exército da Salvação.
O Cavern fica bem abaixo do solo, o original foi destruído na década de 70 e reconstruído com os tijolos do antigo. Não é a mesma coisa, mas valeu. O que espanta é que faz pouco tempo pensaram em derrubar a casa onde Ringo nasceu para modificar a região. Será que eles não aprendem o quão importante para a história foram essas quatro pessoas?

Depois de passar um bom tempo no Cavern, escutar um show ao vivo, fui passear no porto. Lá encontrei uma exposição sobre a história deles. Aprendi mais alguns detalhes, vi diversos instrumentos e vi um monte de fanáticos como eu.



Na porta do Cavern Club.
É legal ver que de qualquer lugar, pequeno ou grande, podem surgir fenômenos. Essa é a prova da diversidade do mundo e de que as possibilidades estão para todos. Mesmo com poucos recursos, vindo de família menos abastadas, surgiram pessoas tão especiais.

Eu sempre me perguntei o motivo de ter sido Liverpool o local de surgimento da maior banda de todos os tempos. Eu tive várias dicas nesta viagem. A primeira e que eu achei fundamental é a influência de músicas vindas dos EUA. Liverpool era o grande porto do Atlântico e era por lá que chegavam os discos dos EUA. Os marinheiros viajam para lá, escutavam o que estava acontecendo, traziam para Liverpool para tentar vender e fazer um dinheiro extra.

E foi graças a essa variedade que muitos da cidade entraram em contato com tudo o que acontecia do outro lado do oceano e puderam mesclar isso tudo com o que também havia na Inglaterra, notadamente o Skiffle. Esse movimento levou ao surgimento de muitas bandas, que ficaram conhecidas pelo estilo Mersey Beat. Mersey é o nome do rio que corta Liverpool.

E não só isso, por ser uma cidade industrial e um porto, havia muita gente no centro e em seus horários de lazer havia público para as diversas casas e para os inúmeros shows que aconteciam. Não só no fim do dia, mas também na hora do almoço. Isso é uma grande escola para bandas iniciantes.

O número de bandas era tão grande e a cena musical tão aquecida que criaram um jornal para divulgar tudo isso que acontecia na cidade. Imagine que a cidade industrial, portuária, passa a ser uma capital cultural, especialmente relativa à música. Essa é apenas parte dos ingredientes de formação dos Beatles, mas estar no local para verificar e entender tudo foi imprescindível.



Este foi um dia intenso, mas foi um dia inesquecível, fiz o que há muito queria fazer, foi uma bela maneira de praticamente encerrar a minha viagem.

Dia 12: Passeio guiado pelo centro e peregrinação Brewdog

Ainda quando estava no Brasil vi a recomendação de um tour guiado pelo centro de Londres chamado Bowl of Chalk, a tradução literal é tigela de giz, o que não faz o menor sentido. Porém, na gíria cockney, que é uma maneira peculiar de se falar trocando as palavras por outras que rimam, significa walk, ou seja, caminhar.

O guia se chamava Johnnie. Ele lidera o tour para pequenos grupos e dei sorte de conseguir participar dela. Ele já havia trabalhado como guia e agora faz isso de maneira independente. Esse tipo de atitude é muito corajosa, depender do trabalho próprio, sem o intermédio de empresas para viver é algo bem arriscado.

Antes de começar a andar conheci as outras pessoas do grupo. Fiquei de papo com um casal simpático americano, um dos filhos dele está estudando em Cambridge por intercâmbio e eles o encontrariam lá. Por coincidência eles eram judeus e tinham um filho chamado Daniel. Eu não me canso das coincidências do mundo. Contei a história da família, eles se interessaram muito.

De volta à caminhada, começamos a caminhada do centro de Londres, precisamente o ponto do qual todas as medidas são feitas. Esse foi o último ponto de parada de um cortejo fúnebre antes de chegar à Abadia de Westminster.



Portão na City, remanescente da época dos Romanos.


Casa antiga, em beco antigo, pertencente a um proprietário excêntrico.
Ali um pouco de história da Inglaterra foi contada. Na escola aprendi que Oliver Cromwell havia sido um revolucionário que contestou o poder divino do rei, liderou uma rebelião e implantou uma democracia. Bom, não é muito assim. Ele implantou uma ditadura própria, proibiu bares e jogos de azar e por isso e mais era odiado pela população.



A corte de justiça.

Depois de sua morte o povo chamou o filho do rei, que havia sido morto por Cromwell e em seu retorno, cinco anos após a morte de Oliver, exumaram o corpo, o enforcaram e cortaram sua cabeça. Esse é o prestígio que tinha o cidadão.

O passeio falou sobre a grande praga de 1665 e o grande incêndio de 1666. Não devia ser muito fácil viver na idade média. Passamos por diversos becos, a cidade é cheia deles. E vi que bares sei não faltam. É muita história junta sobre Londres.

Resolvi não fazer a continuação do passeio da tarde e fui para o Borough Market. Esse mercado é aquele cheio de comida. A primeira coisa que fiz foi comer uma ostra enorme, deliciosa.
Depois comprei pão, queijo e um embutido. Eu preciso fazer um defumador, vou ter de pegar um projeto e implementar. Isto é imperativo.

Comprei uma cerveja no bar, sentei na calçada como todo mundo, usei minha mochila como mesa e fiz meu lanche. Sentado comendo tube uma ideia. Visitar os pubs da Brewdog em Londres. E foi o que fiz, tomei três cervejas em cada, comprei uma camisa e voltei feliz pro albergue.


Ostras selvagens. Há ostras domesticadas?
Pães da barraca holandesa. 

O Pub que fica em frente ao Borough Market. Foi nele que eu pedi cerveja pelo estilo ao invés de pelo nome.

Borough Market, talvez o mercado mais legal que vi em Londres, mas é claro, comida do mundo inteiro.

No Brewdog Pub em Shoreditch, o paraíso na terra.

O melhor cardápio que já vi na minha vida. Pena que não é o mais barato.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Dia 11: Mercados e Hyde Park

Ontem de noite acabei saindo do bar depois que o metrô fechou, tive de pegar um táxi preto. Vi de dentro o espaço que há.

No quarto do albergue entrou um espanhol. Ele está aqui buscando trabalho já que ele terminou seu vínculo com a faculdade. A situação de várias pessoas na Europa não está fácil.

Como ele, há diversos espanhóis, italianos e cidadãos de outras nacionalidades trabalhando nesta cidade. As lojas de lembranças são sempre de estrangeiros, bem como as barracas que vi no mercado.
Um país próspero sempre atrai mão de obra estrangeira. E aqui há gente de todo o mundo mesmo.
Hoje comecei o dia arrumando a mala, os papéis, fazendo umas pesquisas de visita, dentre outras coisas.



Tapetes de todos os tipos. E baús também.
O primeiro ponto que visitei foi o Camden Market. Esse mercado emenda com outro, o Stable Market. 
Antes de ir aos mercados sentei para comer num lugar famoso chamado Poppie`s. Eles servem um prato famoso, Fish and Chips, dessa vez haddock.



Dentro do Camden Market.

Logo depois do almoço passei na Open University, ela ficava bem na esquina do Poppie`s. O conceito é estudo a distância. Eu já vi alguns vídeos deles, são bons. Aliás, isso é uma nova tendência mundial, tem outro site que conheço e nu qual já fiz alguns cursos, chamado coursera. O mundo está se expandindo, viva a informação. Não me lembro de ter feito uma viagem sem ter me metido em uma universidade. Fui lá ver, olhei os prospectos e saí. 

De volta aos mercados, no primeiro vi muita roupa enquanto no segundo vi coisa de todos os tipos.
Camisas vintage, roupa, bolsas de couro, jaquetas, quadros, colecionáveis e até comida. Vi umas placas bem legais, mas levar metal na mala não dá. Ou compro em casa ou mando pelo correio, na mão não dá.
Essas placas de metal são muito legais, tenho de achar onde isso é vendido no Brasil.
Achei o mercado bem interessante, sempre penso, onde encontro isso no Brasil, um mercado consumidor sem dúvida existe.

Depois do passeio pelos mercados fui a Harrod's. A loja é enorme, no estilo das grandes lojas de departamento americanas, muda, porém, o luxo dos produtos. Vi as coisas mais variadas pelos preços mais exorbitantes.


Domando os filhos. Uma educação no cabresto.
O que mais me interessou foi a parte de comida. Os quitutes eram tão luxuosos quanto o resto do lugar.
No caminho de volta fui andando pelo Hyde Park, uma boa caminhada pelo parque. Mesmo assim eu consegui escutar o barulho dos carros, não fiquei isolado como gostaria.



Todos os tipos de fungos.
De noite foi a dois pubs, ambos indicações. Um, o Waxy Oconnor's, tinha uma divisão curiosa, o pub parecia uma casa na árvore, mas descendo.

O outro era na beira do Tâmisa, estabelecido em 1520, um pouco antigo. Fiz lá minha terceira refeição do dia. Acho que já descobri no que estou gastando dinheiro.



Um humilde PUB de 1520, no sul do Tâmisa.



De dentro do Prospect of Whitby, o Tâmisa.
Na volta ainda tive de mudar de estação na rua, passei uma e acabei andando mais do que queria. Por fim cheguei ao albergue.

A noite na City.

Dia 10: Museus

Um dia dedicado a museus. Visitei quatro deles. Comecei com o Tate Modern, mas chegando lá vi que podia pegar um barco para o Tate Britain e foi o que fiz. O barco passava de um lado ao outro do Tâmisa, valeu o passeio.



Uma volta de barco no rio Tâmisa.
Neste último ficam as obras de um pintor inglês que gosto muito, William Turner. Os quadros dele tem o contraste bem marcado. A luz é percebida num cenário escuro o que me cativa. Outro ponto que sempre me impressiona é o tamanho dos quadros. Eles são enormes, medindo talvez dois por três metros. Como manter a previsão em tanto esforço me intriga.

Uma pintura de William Turner. Este é um dos pintores que mais me fascina.
O segundo museu que visitei foi o Tate Modern. Definitivamente até moderna não é pra mim. Eu entendo o conceito, acho válido, só que não me toca. Eu gosto de tudo mais clássico, mais ordenado.
Antes de começar a visita dos museus de tarde, fui comprar a passagem para Liverpool, os preços são altos. Achei uma com o preço razoável e vou no domingo.

Parti para o museu de história natural. O edifício é lindo, novamente, por si só teria sido válida a visita. Mas tinha outras coisas legais lá dentro. Uma parte da biologia, que não é um de meus assuntos prediletos, pela qual tenho extremo fascínio são os dinossauros. Como a natureza é tão diversa a ponto de criar animais desde porte e que sobreviveram por anos e anos.



Fachada do Museu de História Natural de Londres.



Um brontossauro, incrível como isso me fascina.
Um dos grandes inovadores do pensamento humano. Quebrou paradigmas e convicções próprias.
O museu é todo bem montado. Na parte dos dinossauros há esqueletos e robôs imitando seu comportamento. Na parte da evolução dos primatas culminando com os humanos há crânios que normalmente vemos em livros e mapas com localização geográfica. Tudo muito bem exposto.
Por sorte havia ainda outra exposição no mesmo museu que me atraiu foi do Sebastião Salgado. Esse deve ser o maior fotógrafo do Brasil e tem um grande prestígio internacional.

A réplica do T-Rex, impressionate a perfeição.
Nessa exposição, chamada Genesis, ele buscou as origens do ser humano. As fotos são de lugares remotos e de tribos que ainda vivem como devíamos viver há mais de três mil anos atrás. Acho que há uma exposição dele no Jardim Botânico, vou conferir.

O quarto museu que fui conferir foi o de ciência. Bem interessantes os primórdios dos motores, e o tamanho também. É legal ver que prédios eram construídos para abrigar as máquinas, geralmente de metal, e ver que a estrutura dos prédios ainda eram rústicas, com madeira dominando.
Também estava exposta a oficina de James Watt. Deu para ter uma ideia de como se fazia ciência prática naquela época.



A estrutura de energia 



Réplica da oficina de Watt.
Dia cheio, só parei para comer algo perto de seis da tarde. Ontem eu comi um Fish and Chips diferente, de bacalhau. Chamava—se the cod father, numa alusão ao filme O Poderoso Chefão, the godfather, em inglês.

Hoje comi no mesmo bar, mas mudei o prato, pedi iscas de peixe (tsc). Incrível a variedade da comida inglesa.











terça-feira, 25 de junho de 2013

Dia 9: Stonehenge e Bath

A pontualidade britânica não é mais a mesma. Com medo de perder a excursão me adiantei, precisava comprar o passe semanal e cheguei ao metrô antes que os caixas estivessem abertos. Esperei dez minutos, comprei o passe e segui para o local de encontro. O ônibus se atrasou dez minutos.

Uma coisa que me chamou a atenção pela manhã é que embora tenham pressa, as pessoas não fazem barulho, todas caminham ordeiramente sem causar distúrbio. Curioso que os  hooligans sejam daqui. Outra curiosidade é que os pontos de ônibus ficam voltados para o lado da calçada, não sei se é pra proteger o pessoal da água que pode ser espalhada pelos veículos passando, se é para manter a fila fora das ruas, é diferente.

Ainda nas ruas, há uma quantidade entende de ciclistas todos usando coletes. Gostaria de Murray num lugar onde eu pudesse fazer isso.

O ônibus passava por alguns lugares antes de seguir viagem, então pegamos um trânsito forte. A ruas pelas quais possamos eram estreitas, não faz sentido andar de carro por aqui. Deviam banir o uso. Depois de uma hora rodando finalmente seguimos para Stonehenge, nossa primeira parada.

A impressionante construção de Stonehenge.
Stonehenge é impressionante. O tamanho e a data de construção surpreendem. O sítio começou a ser construído em aproximadamente 2500 antes da era comum, a pedra maiores foram eregidas mil anos depois, ainda assim, muito antigo.

O metal ainda não era dominado então as ferramentas utilizadas eram de pedra, madeira ou ossos. Uma façanha da engenhosidade humana. O esquema de construção se baseava em cordas, alavancas e a construção de torres auxiliares. Deve ter sido um feito e tanto, deve ter consumido muito tempo e uma quantidade enorme de homens deve ter sido envolvida.

 E há mais, na época o local era uma floresta densa que deve ter dificultado o transporte das pedras para aquela região. Outro fato curioso é que a disposição das pedras indica o conhecimento da movimentação do sol, das estações, solstícios e a álgebra da sombra.

O propósito dessa construção é apenas especulado já que os homens do neolítico não nos deixaram pista alguma. Mas é um lugar incrível de se visitar. Nossa próxima parada foi Bath, que tem uma história que começa lá atrás com os povos autóctones da Ilha da Bretanha.



Detalhe da catedral de Bath, vista do interior do banho romano.
Os antigos acreditavam que a água quente era um milagre, supunham o lual sagrado e por isso construíram um templo rústico de adoração ali. Os romanos quando chegaram aumentaram o complexo que agora era compreendido por um templo, casa de banho, sistema de escoamento de água, etc.



O banho romano. Águas quentes eram utilizadas no tratamento de doenças e para lazer.
Mas quais costumes celtas são incorporados à cultura romana, com a criação de deidades mistas, utilização de figuras representativas com características locais dentro outros.



O interior da ponte era um shopping, interessante como se integra bem arquitetura e utilidade.
Fiquei um bom tempo nos banhos romanos, depois fui explorar um pouco a cidade. Há um rio cortando a cidade, nunca de suas pontes há uma galeria dentro com restaurantes.

Comprei na feira morangos. Os morangos daqui eram bons, mas não como os de São Francisco. Comprei também um salgado e uma torta. Ambos nada de outro mundo. Como já era hora de voltar para o ônibus, passei rapidamente pela catedral e entrei num pub para provar a cerveja local. Uma boa ale com sabor amargo. Almocei na praça o que havia comprado, esperando o ônibus.



Achei uma feira e não pude deixar de comprar morangos.


Salgados e doces na versão inglesa. A loja era toda arrumada.
Tanto na ida quanto na volta vi muito o interior da Inglaterra. Algumas colinas, porém, majoritariamente plano ou planície. Grama verde impecável é o que não falta, e lindas casas de pedra ou tijolo.

Bath é uma cidade Vitoriana, detalhes de construções.

Dia 8: A volta a Londres

Dia de deixar a terra do Tio Patinhas e voltar para a terra de Robin Wood. Pra chegar ao aeroporto peguei a van dos correios, fomos parando em diversos lugares para a coleta de cartas e também na casa da motorista para provavelmente ela dar um bom dia pros filhos.
No aeroporto a senhora que me havia dado as indicações da Ilha perguntou como tinha sido minha visita. Incrível que as pessoas de lembrem dos outros. Tentei comer algo salgado e não consegui, só tinha doce.

Cheguei tranquilo em Glasgow e peguei o voo para Londres, resolvi ler o financial times. O jornal deve ter dois metros de comprimento, parece um mapa mundi. Ler no voo foi complicado, mas sempre dá pra ser virar. Enquanto isso a senhora do meu lado lendo um tablóide com as notícias mais absurdas do mundo. Eu me recuso a comentar qualquer que seja.

Novamente chegada tranquila. Tinha tanta gente na estação de trem que tive de encarar fila. Um contraste entre a cidade grande com muita demanda e oferta insuficiente e cidade pequena com pouca demanda e pouca oferta. Ou isso não é contraste?

Há três coisas que ainda não entendi:

Por que eles tomam cidra? Incompreensível com a quantidade de boa cerveja.

Por que eles servem cerveja à temperatura ambiente quando faz mais que dez graus Celsius?

E finalmente por que os escoceses falam inglês?
É como se os franceses falassem inglês!

O dia inteiro foi de viagem, estou ficando noutro albergue mais ao norte, queria ver uma região diferente. Esse é violado na parte norte do Hyde Park, numa área chamada Kensington Park. Mesmo chegando tarde fui dar uma passeada na loja dos Beatles, achei que vendem mais bugigangas que coisas legais.


A famosa feira de Covent Garden, no fim.

De lá, Notting Hill, passeio de leve, um bairro mais calmo, alguns restaurantes legais entrei num é pedi um pato confit. Estava bem gostoso, acompanhou uma dauphinoise e salada. Para beber, cerveja, outra diferente.

Notting Hill. Não, eu não vi o filme.
O interior do bistrô no qual jantei.
Voltei outro hotel, amanhã vou visitar Stonehenge e Bath, estou ansioso pelas duas.


Dia 7: Isle of Islay — visitando as destilarias

Acordei e peguei minha roupa, fui tomar banho e depois café. Arrumei a mala e saí para pegar o ônibus. Essa foi a melhor noite que dormi. Fez frio o que me induziu a um ótimo sono. Além do mais, como aqui não tem colcha e somente edredom, quanto mais frio melhor.

Peguei o ônibus para Port Ellen, o ônibus era o mesmo que levava as crianças para a escola, no mínimo curioso. Em Bowmore, mudamos para um ônibus menor, o motorista também trocou de ônibus. A ilha tem 3500 habitantes  e várias cidades ou como chamam aqui, comunidades ou vilas.

O principal produto da economia é o Whisky. Há uma indústria de turismo forte. Também se destaca a agricultura, criação de animais e pesca. Vi muitas ovelhas pela cidade inteira, também vi cabras e gado bovino.

O ônibus demorou bastante, quando saí pedi indicações e fui andando. Pedi informação na rua para saber onde era a primeira destilaria que visitaria e me disseram que estava distante duas milhas, ou seja, mais de três quilômetros. Isso é muita coisa! O conselho que me deram foi pedir carona, e não é que consegui.

Cheguei à destilaria Lagavulin na hora — como gosto de ser pontual! — fiz o tour e depois a prova de diversos sabores. Deu pra notar a diferença de acordo com a idade. A quantidade de álcool varia e não só da idade depende o sabor. O tipo de madeira também é bem importante no processo. Provei o álcool que saí da fermentação sem passar pelos barris, é intragável.

Sobre o processo do Whisky, até a parte da fermentação tudo é bem parecido com a fabricação da cerveja, depois da fermentação o processo muda. A levedura não chega a ser separada do produto da fermentação porque o álcool vai ser destilado e a levedura não vai evaporar.

Para esse processo cada destilaria usa um formato diferente de destilador de cobre. Esse processo de repete algumas vezes e o produto final é armazenado em barris onde ocorre a maturação.

Um pequeno estoque na destilaria Lagavulin
O whisky daqui é conhecido pelo sabor defumado, que é obtido quando os grãos de cevada são postos para germinar depois são levados a uma câmara de secagem, mas antes de secar passam dois dias sendo defumados com hummus.

Detalhe da inscrição Ardbeg.
Curioso é que os barris são originais dos EUA, Espanha e Portugal, com o primeiro país liderando as estatísticas. Aliás, a história dos EUA influenciou muito a história do whisky. Por exemplo, na época da lei seca várias destilarias quebraram já que os EUA eram o principal mercado.

Um belo barril, preenchido por um igualmente belo líquido.
Mas o mesmo movimento fez crescer a importação de barris e fez se desenvolver a indústria dos blended whiskies, ou seja, whiskies feitos a partir de misturas de diversos single malts. Fui andando dessa para outra destilaria, Ardbeg. O tour foi mais livre, pudemos tirar fotos, foi mais íntimo. No final teve uma pequena prova. Almocei por lá mesmo, de entrega salmão cru e cozido. O salmão aqui é bem saboroso.

Provando as iguarias da Escócia, num mesmo prato o salmão cru e cozido.
De prato principal um belo hambúrguer de novilho no estilo haggis. Ambos acompanhavam salada. Tomei uma cerveja local para acompanhar. O próximo destino era a Laphroaig, bem longe da que eu estava, comecei a andar, pedi carona duas vezes e consegui. Esse lance é muito legal.

Fachada externa da Laphoraig.

Diversos destiladores perfilados. A água quente que passa por fora dos destiladores, aquece o álcool que evapora.
Detalhe da escotilha para verificar o interior do destilador.

Outra pequena coleção de barris.
Minha preocupação era a hora do ônibus. Além disso o albergue só abre às cinco. Tudo é bem peculiar aqui. Fui andando da última destilaria até o porto Ellen e acabei tendo de pegar um ônibus para Bowmore, depois um táxi para o albergue. Entrei num hotel, pedi à recepcionista para chamar um táxi e pedi uma cerveja. Adivinhem, o mesmo taxista. Mais papo.

Acabei no bar que eu queria ter ido jantar ontem mas que estava com a cozinha fechada. Vi e confirmei outra história do taxista, o meio a meio, ou seja, uma dose de Whisky e uma cerveja. Um não elimina o outro e é uma boa combinação.

Uma bela noite em Isle of Islay.
Amanhã voo para Glasgow e de lá para Londres. Ainda tenho muita coisa que quero fazer no Reino Unido.










domingo, 23 de junho de 2013

Dia 6: Ida a Isle of Islay

O dia ontem tinha sido muito bom e surpreendentemente ficou melhor. Saí de noite para procurar um pub com música ao vivo. Pedi informação na recepção e fui pra rua indicada. Entrei no primeiro pub no qual uma banda tocando músicas no estilo Rolling Stones de apresentava.


Quando fui comprar meu segundo pint vi dois caras discutindo. Fiquei de longe olhando. Um devia ter vinte e pouco do outro trinta e muito. Eles se ameaçavam com palavras, o mais novo ficava provocando com ligeiros tapas leves no outro. Eles acordaram sair do bar, mas os amigos foi mais novo não deixaram. 

Enquanto isso vieram os seguranças que primeiro olharam e depois foram conversar. Nunca vi uma suposta briga de bar tão educada e calma. No fim nada houve.


Fui conversar com um pessoal para ver se havia algo melhor para ser feito. Uma menina do grupo disse que estava na Escócia estudando o processo de fabricação de cerveja e destilação de whisky. Tá aí um curso interessante de verão. Bom, o proveitoso da conversa foi que ela me indicou o bar da Brewdog, uma das minhas cervejarias prediletas.

Fiquei extasiado quando entrei no bar! Quanta variedade, eu fiquei tão em dúvida que pedi ajuda pro camarada que estava atendendo. Aliás, uma placa sugeria exatamente isso.

Tomei na ordem:
* Hardcore IPA, com teor alcoólico de 9,2%
* Jack Hammer, com teor alcoólico de 7,4%
* Dead Pony, com teor de 3,8%

Todas muito lupuladas, cada uma com uma nota especial em seu lúpulo.
Saindo de lá achei uma boa ideia comer algo. Fui de kebab mesmo. No caminho e rápido.
Depois disso tudo dormi de uma às seis e fiquei rolando na cama até as oito. Dormir com tanta luz é uma tarefa difícil. O americano que me falou que não tinha problemas com a luz estava com a cabeça coberta. Que papelão.

Usei um dos vales e pedi o café da manhã inglês. Uma pedrada. Linguiça, chouriço, batata cozida em forma de torta, ovos fritos, torrada, tomate e bacon. Passei os últimos dois.
O café reforçado vai me ajudar porque hoje é dia de viagem. Vou para Islay e para isso tenho de ir a Glasgow antes.

Fui passear pelo Centro de Edimburgo, desci até o parlamento e do lado avistei a residência oficial da rainha na Inglaterra. Tinha uma montanha do lado, achei que era uma boa ideia subir para ter uma boa vista da cidade. Que boa ideia quando se tem pouco tempo, apenas um úteis e se veste calça jeans.
Andei por mais de uma hora, não cheguei ao topo, suei e fui ridicularizado por um senhor para o qual pedi informação.

Consegui subir bastante, mas tive de desistir e voltar. Bom, se não bastasse a cerveja e o whisky, agora tenho outro motivo para o retorno. Como a estação de trem era do lado do albergue, resolvi já pegar o próximo trem. Não gosto de horário apertado e gosto de fazer tudo com planejamento.



O painel de chegadas e partidas da estação de trens de Edimburgo.
Mas há coisas que não conseguimos prever na vida. A viagem de trem durou cinquenta minutos, foi bem tranquila. Cheguei em Glasgow e achei ótimo ter saído perto do centro.


Alguém tem medo de avião pequeno?

Fui olhando para uma bela praça que apareceu na minha frente. Notei um número grande de outros com colete amarelo, pareciam ser da polícia. Co também umas grades na beira da rua. Bom, perguntei como fazia para pegar o ônibus e recebi as direções. Continuei caminhando, vendo o centro, tirando fotos, e continuei orientando onde era o local para pegar o ônibus.

Prédio no centro de Glasgow.
Fui me aproximando do local da primeira indicação que obtive, porém, agora havia notado que o motivo da grade e pessoas de amarelo é que havia uma corrida de bicicleta na cidade. Perto do lugar que eu devia pegar o ônibus fui informado para voltar. Perdi minutos nessa história, mas o voluntário da organização me levou quase até o lugar. Sujeito muito prestativo.

Achei o ônibus, expliquei a situação e fui admitido sem problemas. A viagem foi rápida e tranquila. No aeroporto como um outro tipo de haggis e provei outras duas cervejas. Esse país é demais. A ilha fica na costa oeste da Escócia e se pronuncia Ai—lá.

Aliás, a Escócia tem uma história riquíssima. Eles estiveram em guerra com a Inglaterra por Asus, foram aliados da França, falam inglês há bastante tempo, tiveram clãs em disputas por séculos e é um país que não tem hino nacional. É muita coisa junta para entender em tão pouco tempo.

Chegando na ilha não havia ônibus porque era domingo. O taxista da cidade vai levar um pessoal e me buscar na volta. Nesse tempo de espera algumas pessoas vieram falar comigo e me deram indicações sobre a ilha. Muito legal essa recepção calorosa. O tempo hoje está feio, parece que ontem fez um belo dia. Vamos torcer para melhorar.

Boas vindas da esteira.
A hospitalidade do pessoal aqui é demais. No aeroporto enquanto eu esperava pelo táxi uma senhora me mostrou o mapa, perguntou se eu tinha como ir para onde eu ia. O taxista foi muito gentil e ficamos de papo sobre o tipo de vida aqui, sobre como as pessoas andam apressadas e estressadas. Falamos sobre economia, turismo, futebol, o de sempre. 

Chegando no albergue a recepcionista, uma senhora, estava explicando tudo sobre a Ilha para três americanos.Depois de terminar de atendê—los, me deu atenção e foi muito gentil. Quando falávamos do horário de  volta do ônibus, ela sugeriu que eu conversasse por lá. Eu disse que era brasileiro e sempre dava um jeito.

Ela me desafiando perguntou o motivo de eu ter vindo de táxi e não de carona. Expliquei que já tinha acordado com o taxista e que por isso esperei embora tivessem me oferecido carona. Ela elogiou minha atitude, eu fiquei pensativo. Será que há espaço para os bons nesse mundo?

Uma casa típica de Islay.
De todos os modos ele falou que tudo volta e que minha atitude tinha sido a correta. Vamos esperar. Consegui botar a roupa para lavar e fui para o restaurante. O que eu queria ir não estava servindo comida, então fui no do Hotel de Port Charlotte. Chegando pedi uma mesa, a cerveja dou servida na ante—sala. Esse lugar era bem interessante e aconchegante. A lareira estava acesa e o bar cheio. Pouco tempo depois fui levado ao andar inferior onde havia outro salão. Avistei os americanos e eles me convidaram para sentar com eles.

Apesar de parecer que a ilha é densa de casas, por esta foto, este é um detalhe de Port Charlotte, uma das poucas localidades com concentração de casas na ilha.
Nós nos apresentamos, descobri que eles eram da Louisiana e que um deles vai ser mudar pro Brasil. Os três eram bem inteligentes e conheciam muita coisa do mundo. Falavam sobre número de população, quantidade de habitantes, fatos sobre o mundo. Quebraram completamente o estereótipo do americano isolado. É sempre muito legal encontrar pessoas de bom nível intelectual e interesse no resto do mundo.

Detalhe da rua que beira o litoral em Port Ellen, onde ficavam as três destilarias que visitei.
De entrada pedi um guisado de frutos do mar que estava excelente. De prato principal pedi uma truta de um lago local. Provei três cervejas novas. Na hora de pagar as contas vieram juntas e um americano pagou tudo. Insisti em pagar minha parte mas ele de negou.

Interior do The Port Charlotte Hotel & Restaurant.
Como ficamos de papo escutando música tradicional ao vivo, paguei uns rodada de cerveja que foi quase o que eu fiquei devendo. Tem muita gente legal nesse mundo. A banda tocava vários instrumentos, acordeão, flauta, banjo e até o dono do bar cantou uma canção tradicional e gaélico.

Perto das dez, ainda claro, voltei para o albergue pois queria tirar minha roupa da máquina de lavar e colocar na de secar. Tive uma surpresa, minha roupa estava pendurada e alguns toalhas na máquina de lavar. Deve ter sido a recepcionista. Como há gente legal aqui.

Percebi que estava muito quente na lavanderia e deixei a roupa pendurada para pegar depois. Já era hora de dormir e fui pra cama.

Tranquilo e feliz. E cansado, dá pra notar?