segunda-feira, 1 de abril de 2019

Chegada em Viena

Talvez pouca gente tenha prestado atenção, mas o nome do meu blog é uma homenagem ao livro On the Road do Jack Kerouac. Ontem, antes de vir para Viena, assisti à versão cinematográfica e gostei.

É claro que um filme não consegue mostrar tantos detalhes como um livro faz. Mas o filme é capaz de passar o sentimento geral do livro. Uma curta sinopse do livro poderia ser: dois caras de formações completamente diferentes na vida constroem uma amizade, um buscando conhecimento e o outro buscando inspiração para escrever um livro.

É claro que há mais coisa, o rapaz buscando conhecimento, especialmente formal, tinha muito conhecimento de rua. Já o rapaz buscando o tema para o livro, queria ter vivência. O primeiro, Dean Moriarty é a fonte inspiracional, vivendo a vida como se não houvesse futuro, o segundo, Sal Paradise, que muitos dizem ser Sad Paradise, é mais comedido. Sempre tive a impressão de que seu nome fizesse referência a Dean.

Um outro ponto que une ambos é a vontade de viajar, de estar na estrada. A vida parece não ser vivida fora da estrada, porém a produtividade só vem quando eles estão parados. Parece haver uma busca constante de inspiração e depois o momento de catarse.

Hoje de manhã, quando acordei ainda de madrugada, tive aquela sensação de estar saindo da zona de conforto. Mais uma vez acordando de madrugada, indo para um país desconhecido, sozinho. O ponto de maior atenção é sempre a chegada. Eu tenho o costume de simular o caminho num mapa no telefone e tirar uma foto. Também sempre anoto o endereço num papel. 

Viajar já foi mais aventura, quando tudo dependia da maneira antiga de se orientar. Hoje é tudo mais cômodo.

O aeroporto de Viena é muito bem sinalizado e há internet fácil de usar. Consegui me achar rapidamente e fui para o albergue. No caminho tentei comprar um chip de telefone, mas a fila estava grande. Cheguei no albergue, deixei minha mala e fui comprar logo o cartão de dados. 

Pronto, com o mapa em mãos comecei a visitar os pontos que havia anotado. Minha primeira parada foi o Hofburg. Ele era a residência de inverno e foi construído a partir de uma fortaleza medieval. A visita incluía três partes: a prataria e cerâmicas, os aposentos e a vida da esposa de Franz Joseph, chamada de Sissi.

Uma fachada do complexo Hofburg

Detalhe de outra fachada
A quantidade de talheres e cerâmica era descomunal. Uma opulência grandiosa. Muita coisa de prata, quase tudo banhando em ouro. Cristais e vidros também eram muito bonitos. 
Tudo dourado

Pode me convidar, mas eu não lavo a louça

A visita seguiu para a vida da rainha Sissi (Elisabeth; em português, Isabel). Há muita controvérsia sobre a rainha, mas parece que a formalidade da corte foi decisiva para aumentar a solidão dela. O marido dedicava-se muito ao império, sobrando pouco tempo para a vida conjugal.

A última parte da visita foi o castelo propriamente dito, em especial os aposentos. O pé direito era grande, as paredes eram decoradas com boiserie (aquelas molduras para preencher espaço), tudo era branco, com detalhes em dourado e os tapete geralmente eram em tons de vermelhos.

O que achei mais engraçado era a narração dizendo que o rei era frugal. Morava num palácio com dezenas de quartos, num complexo enorme e com prataria para centenas de convidados. E chamavam isso de frugal.

Logo ali do lado estavam as joias da Coroa. Visitei logo em sequência. Novamente impressiona a quantidade de ouro e tanta simbologia. Coroas, cetros, cruzes, mantos e mais mantos. E até uma espada toda ornada. Eu não consegui achar quanto pesa um manto imperial, fiquei curioso, parecem cortina.

Símbolos do poder real

Um manto (que parte uma cortina)

Detalhes gravados na espada

Já faminto fui até um restaurante chamado Reinthaler's Biesl, de comida típica. Comi porco assado com chucrute e bolinho de massa (dumpling), acompanhou uma pilsen. Na mesma rua do restaurante ficava o museu judaico, tentei visitar, mas do alertado que duas exposições abririam no final da semana, resolvi adiar. Segui andando até a catedral de santo Estêvão. O edifício é impressionante. Enorme por fora e por dentro. Estilo gótico, talvez o meu preferido para igrejas.

Catedral de santo Estêvão, por fora...


... e por dentro

Segui caminhando ao próximo ponto, a ideia era ir direto, mas vi um bar bem charmoso e não resisti. Abri a porta, olhei algum tempo, não havia ninguém. Esperei um pouco, quando estava quase indo embora um garçom apareceu. Era um sinal! Fiquei para uma cerveja. O garçom era metade tcheco por parte de pai e a outra metade grego por parte de mãe. E era fanático por futebol. Ser brasileiro sempre ajuda.

De volta ao passeio, cheguei ao Augarten. Foi ali que a coroa portuguesa ofereceu um banquete para duas mil pessoas a um custo enorme, impressionando até a coroa austríaca, para comemorar o casamento de D. Pedro com Leopoldina. 

Trecho do livro 1822, de Laurentino Gomes, descrevendo o banquete que Portugal ofereceu em Viena

Estou aqui há um dia e já deu para sentir a influência dos Habsburgos por todos os lados. Total de 19 Km percorridos a pé. Melhor recorrer mais ao metrô.

Uma cerveja no final do dia



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