segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Delft

Outro dia em que acordei cedo, aproveitei para ler um pouco, o livro se chama Economia em uma lição. Embora ele tenha mais do que um capítulo, o autor, Henry Hazlitt, quer apenas mostrar um tema e retorna a ele em diversas formas: como avaliar os efeitos de uma política no curto, médio e longo prazos. A tese central é que sempre que se proponha uma política que afetará a economia, devemos verificar quais são os grupos de interesse que defendem tal política, devemos avaliar as consequências na sociedade inteira e no longo prazo. Ele não sugere desconsiderar os efeitos imediatos, mas sim considerar a soma de tudo.

Fiquei um pouco na cama até que o Samy me respondesse a mensagem que lhe havia enviado. Havíamos combinado de passear em Delft depois da aula de cultura judaica que a Gabi, sua filha faz na sinagoga Chabad em Roterdã.

Fiquei na dúvida em como chegar à sinagoga, olhei o mapa pelo celular — como facilita viajar com internet, é completamente diferente do que ir no mapa de papel — vi que eram muitas mudanças de transporte. Pensei em ir andando, mas de repente me deu um estalo: bicicleta! É sem dúvida uma maneira muito boa de se locomover na cidade.

Assim que chego à região começo a notar a presença de polícia. É lamentável termos que ter esse tipo de proteção só porque por uma coincidência estatística nascemos num determinado grupo étnico. E mais, justamente por ser parte desse grupo, há outros grupos que não aceitam ou querem nossa presença. O passado deixa marcas e não apenas me refiro à segunda guerra. Um pouco mais de pesquisa nos mostra uma série de eventos de perseguição e assassinatos. 

Lá dentro o clima era completamente diferente. Conversei um pouco com o rabino em hebraico, com a esposa do rabino em inglês e com uma senhora turca em ladino/espanhol. É sempre divertido ter um idioma em comum. Também conheci a Raquel, uma menina de Manaus casada com o Dani, um holandês de Roterdã. Também conheci um casal turco. Nosso povo é de uma variedade espantosa. E é sempre legal escutar histórias doentes de onde cada um chega.

Já passado o meio-dia, começamos a nos movimentar para ir a Delft. A Gabi decidiu que ficaria com a Raquel e depois a buscaríamos. O caminho a Delft, de carro, durou cerca de vinte minutos. Paramos num posto para abastecer, encher os pneus e comprar algo para comer. Enquanto encontramos os pneus o Samy lembrou de uma história boa. Há alguns anos fomos averiguar a situação de um terreno que a avó do Samy havia comprado na região dos lagos. Ele ficou sabendo que estavam tentando invadir um destes terrenos e fomos averiguar. No caminho tivemos de encher os pneus e por isso ele havia se lembrado.

Seguimos viagem, paramos num estacionamento e começamos a andar pela cidade. A cidade é linda, canais beirando as casas, canais no meio de ruas, a praça central com a prefeitura antiga e a catedral de gente uma para a outra.



Fazia muito frio, um vento bem forte, mas a beleza da cidade nos convidava a passear. Rodamos pela praça, a Helena, mãe do Samy, que não andava de bicicleta há mais de trinta anos, tentou e conseguiu. Ninguém esquece como ser criança. Passamos por pontes curvas, igrejas, casinhas lindas e encontramos um bar. Não havia como não entrar, frio, cerveja local, bar charmoso. Pedi o carro chefe da casa, uma IPA. A Vanessa e a Helena provaram, gostaram e pediram uma para dividir. É a catequese sem esforço, a qualidade da cerveja mostra o caminho por si só.


Seguimos, vimos lojas de cerâmica, lojas de antiguidades, fomos até um moinho um pouco mais afastado e fomos procurar um restaurante. Sugeri comida italiana, procuramos e achamos no mapa. Mas antes vimos uma loja no estilo barraca de feira, pedimos um arenque. Dessa vez o Samy provou e gostou. Não posso perder a oportunidade de comer arenque sempre que vejo.


Achamos o restaurante, entramos. Os Garçons eram italianos, o serviço era, digamos, calmo. Ao nosso lado, uma mesa com brasileiras. Uma delas resolveu ligar para casa, com câmera e sem fones de ouvido. Fomos todos obrigados a escutar sua conversa. Será que as pessoas não conhecem aquele ditado, "sua liberdade termina quando começa a minha"?


Pedi um macarrão carbonara. Depois de que comecei a assistir receitas italianas e progressos de fabricação no YouTube, resolvi provar carbonara sempre que encontrasse. A ideia é medir a qualidade de um prato de execução simples, com ingredientes simples, mas com precisão. Acho que terei de voltar à Roma para achar um que me dê vontade de repetir. 


Depois do almoço, que foi bem tarde, comíamos para Roterdã. A Raquel nos convidou para jantar na casa dela. O apartamento ficava em cima do Markthal. O interessante é que havia algumas janelas pelas quais podíamos ver o mercado lá embaixo. Ficamos somente na sala e o apartamento me pareceu enorme, o pé direito era igualmente grande. A família me pareceu muito receptiva e gostei de conversar com eles.


Voltei com o Samy para casa porque eu havia lavado a roupa lá. A roupa não havia secado, coloquei na secadora antes de ir para a casa da Raquel, mas não havia sido suficiente. Colocamos novamente para secar, ainda não estava completamente seca, mas já era tarde e voltei para o hotel. Amanhã sido para Brugge na Bélgica.

3 comentários:

Unknown disse...

Muito linda essa cidadezinha! Adorei a foto de todos juntos. Tinha que ter pedido um fetuccine. Bjss Paty

Alberto Levitan disse...

Paty e eu exigimos : #livrojá!

Unknown disse...

Tenho te acompanhado nessa viagem. Linda demais.Tia Marly.