domingo, 22 de fevereiro de 2015

O primeiro dia no mar - Início da Passagem pelo Drake

Ficamos bastante entusiasmados de poder seguir viagem. Algumas coisas ficaram esclarecidas assim que entramos no barco. A primeira foi a tentativa de fazer jus ao nome da excursão, Quest for the circle, em tradução livre A busca pelo Círculo Polar Antártico. Poucas pessoas chegaram a latitude tão alta no hemisfério sul e isso é um objetivo incrível de se cumprir.

M/S Expedition
Outra coisa que nos ficou esclarecido é que tentaríamos manter a programação original apesar da perda de tempo ocasionada pelo reparo no motor. Ficamos sabendo que uma operação toda foi montada, peças e engenheiros vieram da Europa, mecânicos da Argentina foram deslocados para o reparo, o navio teve de ser reabastecido em menos tempo, a programação teve de ser revista, bem como a rota.

No final tivemos as boas vindas, instruções de segurança, visitamos diversas partes do navio, nos serviram o jantar e nos deixaram livres. A manhã seguinte prometia bastante coisa.

Instruções de salvamento
De acordo com a rota inicial tínhamos dois dias atravessando a Passagem de Drake e até agora cumprimos um dia em mar. No entanto o mau tempo nos fez mudar o plano modificado, que era descer diretamente para o círculo polar antártico. A segurança vem antes de tudo e nisto estou de acordo com todo o pessoal que decide a viagem. Não podemos nos lançar numa aventura irresponsável.



Para não arriscar, assim que nos ofereceram remédios para enjoo eu tomei. O barco inicialmente estava bastante estável, mas bastou sair do Canal de Beagle para ver como seria a travessia até a convergência, ponto onde os mares se encontram.

Notem que embora o horizonte esteja bem inclinado, deveria estar mais, já que não consegui deixar a câmera completamente alinhada com o barco.

Desde a madrugada o barco balança. As refeições são feitas com o balanço, tudo é preso ao chão, desde a cadeira até uma estratégia que se utiliza para que os copos não escorreguem. Uma espécie de toalha bem fina de borracha é utilizada. Embora os copos não escorreguem, eles viram com o balanço, e não é incomum ver o chão molhado.

A cadeira presa ao chão.
Durante o dia algumas palestras aconteceram: Como observar pássaros em alto mar, A disputa pela conquista do Pólo Sul, Conhecendo a Antártida e Como tirar boas fotos. As quatro palestras foram interessantes. Devo admitir que pássaros não são objeto de grande interesse de minha parte, embora admire alguns dados sobre eles, como saber que o albatroz pode percorrer até 1000 Km por dia, ou 8000 Km em uma semana para obter de 1 a 2 Kg de alimento. Ou então saber que não precisam voltar à terra para nada, nem mesmo para beber água.

Mesmo assim, com tanta formação interessante, ainda fiquei mais interessado quando uma animação mostrou o deslocamento das massas que formavam a Gandwana (último macro-continente que existiu) até a forma atual. Ou então saber como as correntes marinhas se deslocam e provocam diversos efeitos no planeta.

A história da conquista do Pólo Sul também é bem interessante. Estou tentando terminar o livro do Amundsen, que foi o primeiro homem a chegar ao último local onde o homem não havia estado, e muita nova informação foi adicionada pela palestra.

As boas vindas do capitão Nesterov. Ele falou que nosso navio é uma expedição, os grandes, hoteis.
Uma coisa muito legal de se fazer aqui é conversar com as pessoas que trabalham nesta expedição. Elas trazem histórias de vida completamente diferentes, mas parecem compartilhar todas um mesmo entusiasmo. Por exemplo, a gerente do hotel do navio é brasileira. A fotógrafa, uma inglesa, é engenheira eletrônica, e assim você conhece pessoas das mais diversas origens, com formação nem sempre relacionada diretamente ao papel que exercem hoje. Mais uma vez, isto corrobora a ideia de que nos adaptamos.

Vista desde a cabina de comando (bridge)
Notem a bandeira depois da janela.
O clima ainda não é extremo e possivelmente não ficará. Estamos no verão e quando não venta a temperatura é perfeitamente tolerável. Aguardamos, ainda ansiosos, pela evolução do dia de amanhã. Tanto com respeito ao clima que pode nos ajudar quanto com relação à velocidade que podemos alcançar. Assim saberemos quando finalmente veremos terra.

Data: 10/02/2015

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