sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Cerros e lagos em Ushuaia

Antes de chegar ao hotel, vindo do aeroporto, eu vi uma agência de turismo com todos os dizeres em português. Resolvi arriscar de noite e fui conversar com o pessoal lá. Fechamos com eles os dois passeios que fizemos hoje.

O primeiro era para conhecer parte da serra que fica ao norte da cidade, num carro 4x4. O segundo era uma caminhada para chegar à Laguna Esmeralda. O dia começou cedo, às 8:30 tínhamos de estar na agência.

Houve um atraso porque o guia que iria fazer o passeio pela manhã passou mal durante a noite. Com um pouco de atraso nosso guia chegou, chamava-se Kristian e dirigia uma Land Rover. Já éramos quatro no carro e fomos buscar outros 2 passageiros. No total 6 brasileiros. 

Pegamos a Rota 3 até um desvio que era a antiga estrada que conectava a Terra do Fogo ao resto do país. É impressionante como a estrada era estreita e perigosa. Precipícios eram uma constante e o melhor de tudo é saber que ônibus de passageiros sempre passou por aqui.

O Land Rover que nos serviu.
Durante o passeio paramos algumas vezes para avistar montanhas cobertas em neve. Grande parte sul do continente americano era coberto por neve, na última era glacial, há 10.000 anos atrás. E é fácil notar onde a capa de neve chegada, basta olhar para o cume das montanhas, se elas são arredondadas, estavam debaixo desta camada. O formato arredondado é decorrente da movimentação da neve ao longo dos anos. A fricção vai aparando as pontas agudas.

Como o passeio era 4x4, em determinado momento nosso guia, que já atirava o carro na lama e em buracos sempre que os encontrava, sugeriu que subíssemos no teto do carro. Cinco de nós subimos para fazer um percurso em cima do carro. O guia definitivamente era louco, ficamos aí até a parada final antes da volta.

Em cima do Land Rover.
Neste caminho desviamos de diversos galhos de árvore, nos contorcendo para não ser atingido, tentando nos proteger também do vento e de eventuais respingos de lama. No fim deste trecho paramos numa propriedade rural onde comemos diversos frios acompanhados de cerveja. Um belo fim de passeio. 

Cerveja em copo de alumínio.
Na volta o guia queria porque queria escutar música brasileira. Fomos mostrando o repertório nacional que eu tinha no telefone. Os seis cantávamos aos berros. Foi um retorno bem divertido.

Na parte da tarde o passeio que fizemos foi a subida à Laguna Esmeralda. Essa laguna se formou na década de 70 a partir do derretimento da geleira localizada numa montanha acima. A caminhada começou no meio de um bosque. As árvores seguram bem o vento o que faz a sensação térmica indicar uma temperatura mais confortável.

Depois que saímos deste bosque chegamos a uma região onde se encontra muita turfa. Basicamente uma formação vegetal que surge logo depois que uma região de geleira deixa de ter a sua capa de gelo.A vegetação primária que se forma esteve muito tempo sem condições para alcançar a vida e se decompôs parcialmente. Depois do degelo ela se regenera por cima da parte decomposta. 

A grande curiosidade é que a turfa é utilizada para dar sabor ao meu estilo preferido de Whisky, que é o defumado. Lá na Escócia pude visitar não somente as destilarias como ver alguns campos de turfa. Já logo me veio à cabeça a possibilidade de fabricar um Whisky sulamericano de qualidade.

Turfa em primeiro plano, um bosque de lengas e o glaciar ao fundo.
O contraponto do local onde se encontra a turfa é ser um descampado. Nele sentimos a presença do vento. O frio começou ali e nos acompanhou até a Laguna. No caminho passamos pelo rio que partia da própria Laguna, onde pudemos provar a água.

Laguna Esmeralda e seu glaciar formador ao fundo.
A chegada à Laguna Esmeralda nos tomou praticamente duas horas. E a cor se justificava. Um verde intenso, apesar da falta de sol. Medimos a temperatura, cogitamos mergulhar, mas o vento em excesso não nos permitiu isto. Fizemos um lanche e até tomamos um licor de doce de leite, que era muito doce para meu paladar.

Com o John(vulgo Roberto) na Laguna Esmeralda.
A volta foi planejada para visitar as castoreiras. Os castores não são originários da América do Sul e foram introduzidos na década de 40 do século XX numa destas ações impensadas que trazem grandes danos. Algumas pessoas tiveram a ideia de criar castores em cativeiro para vender sua pele, uma atividade que atualmente, por si só, já seria bastante criticada. Mas ela termina pior do que começa, isto é, se é possível ter algo pior do que criar animais para arrancar-lhes a pele.

O clima úmido no inverno e seco no verão não se mostrou propício à criação de boa pele para a indústria, sorte dos castores. As pessoas que investiram na ideia trouxeram originalmente 18 casais de castores, não tendo êxito em suas ambições, resolveram deixar os castores livres na natureza. 

Um dique feito pelos castores.
Sem predadores naturais, os castores atualmente constituem uma população de 250.000, alteraram o curso de diversos rios construindo barragens, derrubaram diversas árvores com esse propósito e ainda são responsáveis pela morte de diversas outras seja por afogamento em determinadas regiões, seja por não permitir que a água chegue a outras.

Atualmente uma praga, avistamos alguns castores, que são animais bem tímidos em presença humana. 

De noite comemos num restaurante bem interessante, Maria Lola. De entada lula e centolla, uma espécie de caranguejo gigante. Depois pedi um risoto de frutos do mar que estava incrível. Para acompanhamento cerveja local, Beagle. De sobremesa uma maçã verde no forno com massa filo em volta. A maçã me lembrou a vovó Fina, que de quando em vez fazia este prato, muito boa lembrança!

A vista do restaurante Maria Lola.
Data: 05/02/2015

2 comentários:

Unknown disse...

Adorei sua descrição do nosso passeio. O fim do mundo é um desses lugares imperdiveis que deixa vontade de retornar. Amanhã vamos conhecer os glaciares de Calafate. Continuem uma boa viagem.

Daniel Levitan disse...

Obrigado Fran! Boa viagem!