quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Lemaire Channel e a busca pelo círculo polar Antártico, ou: Um dos dias mais deslumbrantes que já vi

Ontem foi dia de acampamento. As condições eram extremas, posso comparar com uma vez que acampei no deserto em Israel quando tinha por volta de 16 anos e com outra, também em Israel já em 2010. Em ambas tivemos o frio presente, mas dessa vez foi na Antártica! Mesmo sendo verão, foi na Antártica!

O Canal Lemaire foi uma das paisagens mais deslumbrantes que vimos por lá. O dia também ajudou bastante.
Depois do jantar aguardamos instruções. O primeiro ponto que havia sido escolhido para a atividade estava bloqueado por um Iceberg. Por isso o capitão foi em busca do segundo ponto. O local ficava numa baía, protegida de certa maneira dos ventos. Perto da gente uma colônia de pinguins, um pouco de barulho e movimentação deles.

Antes de embarcar nos deram um saco de dormir para cada e uma sacola com as barracas, colchões isolantes e as travas para fixar a barraca no chão. De lá fomos para o Mud Room onde calçamos as botas, fizemos a assepsia das mesmas e embarcamos nos botes. O caminho foi rápido, com um pouco de vento, mas nada desesperador.

Ao chegar ao acampamento recebemos algumas instruções e fomos montar a tenda onde dormiríamos. Olhamos aqui e acolá e sem grandes dificuldades conseguimos deixar a primeira parte como deveria ser. Pedimos orientação e conseguimos colocar a parte externa da tenda conectada à primeira. Fizemos uma proteção de neve ao redor da barraca para evitar a entrada de vento. Para finalizar o John resolveu prender a bandeira do Flamengo. Eu não me opus.

O reflexo nas barracas foi provocado pela minha lanterna estilo mineiro, utilizada na cabeça.
Terminada a parte externa, posicionamos os colchões isolantes e os sacos de dormir. Liguei o som do lado de fora da barraca enquanto aguardava os outros terminarem. Pouco tempo depois a escuridão tomava conta do lugar. Ver o barco aceso de outra perspectiva me fez notar que aquela noite seria dormida na Antártida, era uma ilha, mesmo assim, em latitudes baixas.

Depois de montar a tenda onde dormiríamos.
O local escolhido para acampar ficava bem próximo a uma colônia de pinguins. Escutávamos eles se comunicando, andando, o vento passar e até alguns deslizamentos de neve que aconteciam no outro lado da baía.

O navio ao fundo à direita.
A noite foi fria, especialmente porque o isolante térmico não funcionou como esperávamos. De todos os modos foi uma noite curta, dormimos de 1 da manhã às 5. Acordamos rápido e desmontamos tudo, o mais rápido possível. Nossa ideia era estar no primeiro bote para a volta. E conseguímos. Assim que chegamos no barco fomos recebidos com chocolate quente. Isso foi muito legal, imagine que ainda percorremos o trecho até o barco recebendo vento. Uma caneca de chocolate quente fez muita diferença e deixou a todos muito felizes. É esse tipo de cuidado que faz a diferença numa viagem, fica marcado.

Voltamos para o quarto aguardando o café da manhã. No café vi o grupo de inglesas que havia acampado perto da gente tomando champagne. Fui até a mesa delas e parabenizei, mesmo sem saber o motivo da comemoração. Elas me falaram o óbvio: conseguiram acampar. Muito legal comemorar este tipo de coisa, às vezes não notamos que alcançamos objetivos próprios e comemorar ajuda muito a estabelecer estas marcas.

O dia é de travessia por canais visando a alcançar o Círculo Polar Antártico. Atravessamos um canal chamado Lamaire, que é lindo. Montanhas de gelos por todos os lados, Icebergs, pinguins, baleias, focas de diversos tipos. É indescritível e por mais que eu tente traduzir em palavras a grandeza e variedade que estou vendo é pouco.

Montanhas de neve no Canal Lemaire.
Do outro lado podíamos avistar enormes Icebergs.
Tem ventado muito hoje e mesmo assim os deques estão lotados de pessoas. A gente se tapa em todos os lugares, mesmo assim o vento acha espaços vazios. A parte da frente é sempre a mais sacrificada. Independentemente do andar em que estamos, mesmo assim, lá ficamos. 

Um Iceberg no meio da paisagem. Descendo o canal rumo ao sul passamos mais perto a bombordo (esquerda olhando-se para a frente - proa - do navio). As montanhas deste lado tinham mais rochas aparentes.
Durante todo o o dia anúncios são feitos pelo sistema de rádio, ora dando informações sobre detalhes ora dando informações sobre o que acontece lá fora, por exemplo, onde avistaram uma baleia, onde há Icebergs, o nome do canal, figuras históricas que por aqui passaram. E também nos informam sobre regalias, por exemplo, durante o dia ventou muito e nos ofereceram, novamente, chocolate quente, desta vez com um licor. Foi muito bem vindo e estendeu o período de contemplação.

Depois de passarmos por um estreito.
De tarde, quando ventava bem menos, nos ofereceram sorvete. Fui direto da academia e causei espanto porque estava de camiseta e bermuda. Foi engraçado.

Detalhe das montanhas recobertas por neve.


Hoje o dia foi todo de navegação já que todos no barco querem alcançar o círculo, ainda temos outra expectativa, basicamente botar os pés no continente propriamente dito. Vamos ter de aguardar.

Uma cadeia de montanhas a estibordo (direita).
E Icebergs do mesmo lado.
PS: Uma das integrantes do grupo de suporte tinha um nome que me soou israelense, fui perguntar a origem do nome e confirmei minhas suspeitas. Conversei com ela em hebraico, ela me contou que havia trabalhado por 27 anos num banco lá em Israel, até que depois de uma viagem se mudou para o Canadá e mudou de vida. Ela ainda tem três filhas em Israel, mas vive nestas excursões.
Nem na Antártica é fácil olhar contra a luz do sol.

Data: 13/02/2015

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